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Micheline Santana Palheiros

ANÁLISE DOS INVESTIMENTOS NO SETOR LOGÍSTICO REALIZADO PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO MUNICÍPIO


Micheline Santana Palheiros [1]

Kelly Aparecida Torres[2]

RESUMO

Nos últimos anos, percebe-se uma deficiência muito grande em relação ao processo logístico das micro e pequenas empresas, em especial as do município de São João Del Rei. O objetivo geral deste trabalho foi identificar as possíveis falhas nessa área para que se possa fazer melhorias nos processos logísticos que são tão importantes para as empresas.A metodologia utilizada foi a pesquisa do tipo qualitativa realizada através do método de pesquisa de campo e aplicação de questionários aos empresários são-joanenses. Ao final, foi possível concluir que, o processo logístico que é parte fundamental para as empresas no município de São João Del Rei, precisa ser melhorado, inclusive com adoção de ferramentas que já foram implementadas pelas grandes empresas brasileiras.

Palavras-chave: Micro e pequenas empresas. Logística. Tecnologia da informação. Serviços logísticos.

INTRODUÇÃO

Entender o que significa e a importância da logística para a vida empresarial das pequenas e médias empresas é algo bastante relevante. Sabe-se que o processo se dá a partir do planejamento da empresa, armazenagem de produtos e serviços juntamente com todas as informações necessárias que englobem desde sua origem até o seu destino final, satisfazendo a necessidade dos clientes e conseguindo entregar seus produtos e serviços no tempo certo com o menor custo possível.

Faz-se necessário também observar e entender a importância da logística reversa que usa o gerenciamento e operacionaliza o retorno de materiais após a venda e consumo dos produtos, fato que gera economia para a empresa e ainda se adequa às normas e questões ambientais, fator que gera vantagens competitivas frente às que não utilizam a logística reversa.

Em se tratando de pequenas empresas, investir no setor de logística se torna mais estratégico, devido às condições de armazenamento e distribuição dos produtos ao consumidor final, uma vez que essas atividades podem se tornar inviáveis muitas das vezes devido aos altos custos para as empresas.

Em 2017, o maior problema logístico das pequenas empresas se deu em função dos problemas de transporte no nosso país. Como as estradas estão bastante deterioradas, dificultando ainda mais a chegada dos produtos ao destino final, e o território é bastante extenso, são cobrados altos valores em fretes.A falta de gerenciamento do transporte rodoviário e a falta de investimento em outros modais, são barreiras para o barateamento dos valores de frete.

Este artigo se justifica pela deficiência observada no processo logístico das pequenas empresas no município de São João Del Rei. É necessário obter informações sobre o crescimento do mercado e o desenvolvimento da logística associado a ele. Sabe-se que a logística pode trazer vantagem competitiva e um maior desempenho empresarial para toda a região.

O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar a qualidade do serviço logístico prestado pelas pequenas empresas no município de São João Del Rei para que se possa identificar suas falhas e buscar melhorias para atender a crescente demanda da região.

Como objetivos específicos tem-se: estudar qual o tipo de sistema as empresas estão utilizando para a gestão de estoques; verificar qual o tipo de sistemas empresas estão utilizando para reduzir os custos logísticos e pesquisar se as pequenas empresas estão se adequando logisticamente para atender em um mercado competitivo como o de São João Del Rei e circunvizinhos

Essa é uma pesquisa qualitativa que foi realizada através de pesquisa de campo e foi realizada uma aplicação de questionário a 10 empresários são-joanenses.

Este artigo conta com o seguinte capítulo: a logística no Brasil. Nesse capítulo foram abordados os seguintes temas: os serviços logísticos, os serviços de informação na logística, os custos logísticos e a realidade das micro e pequenas empresas no Brasil.

1. A LOGÍSTICA NO BRASIL

Desde a década de 70, a logística vem representando custos importantes para a empresa. De acordo com Ballou (1993), dentre os custos envolvidos na logística, é o transporte o que mais se destaca.

A importância do desenvolvimento da logística, se deu a partir do momento em que as empresas precisavam melhorar a questão da redução da quantidade de produtos em estoques e o número de armazéns, para que assim, pudessem investir o capital e outros setores da organização.

A logística hoje é vista como uma parte muito importante da gestão da cadeia de suprimentos, que surgiu em meados de 1990, onde há o planejamento, a produção, armazenamento dos produtos e serviço de informações desde a sua origem até o consumo, atendendo de modo eficiente e eficaz todas as necessidades dos clientes (WOOD JR. & ZUFFO, 1998)

Na logística um dos fatores importantes é o transporte de materiais que vai desde a matéria-prima até os produtos já acabados, é o que mais tem se destacado nos altos custos de uma empresa, levando-se em conta muitas das vezes a localização das empresas e o fluxo da logística até os centros de distribuição.

Segundo Fine (1999, p.84),

a verdadeira capacidade essencial da empresa se concentra na habilidade de planejar e gerenciar a cadeia de fornecimento, de modo a auferir a vantagem competitiva, ainda que temporária, fornecendo uma visão holística das atividades, capacidades e conhecimento, tanto da empresa em si quanto de suas empresas aliadas, devendo monitorar todo o conjunto num mercado onde as forças competitivas se encontram em constante mutação.

Está cada vez mais claro na cadeia de abastecimento duas tendências que vieram para dinamizar o processo, trata-se do escalonamento que visa reduzir consideravelmente o número de fornecedores alterando a base de fornecimento, e a interdependência competitiva, que é cada vez maior a interdependência entre os competidores.

Para Boyson et al (1999, p.97),

a evolução conceitual da Logística, subdivide-se em quatro estágios evolutivos distintos, no processo de evolução da cadeia de suprimentos durante o século passado, a saber:

Estágio 1 – Logística Subdesenvolvida: até a década de 70, as atividades de logística focavam a eficiência da distribuição física dentro das atividades de transporte, armazenagem, controle de inventário, processamento de pedidos e expedição.

Estágio 2 – Logística Incipiente: nos anos 80, o foco foi a integração entre as funções de logística, a fim de maximizar sua eficiência. Ênfase no transporte e na armazenagem.

Estágio 3 – Logística Interna Integrada: na década passada, surgiram novos canais de distribuição e novos conceitos de processo produtivo. Busca da competitividade através da adoção de métodos quantitativos de controle de qualidade, da oferta de serviços aos clientes, da formulação de equipes internas interfuncionais e na segmentação da base da cadeia.

Estágio 4 – Logística Externa Integrada: nesta década tem-se verificado uma maior preocupação com as interfaces entre os integrantes da cadeia de suprimentos. Foco no aprimoramento da previsão de demanda e no planejamento colaborativo entre os elos da cadeia de suprimentos. Investimentos em sistemas de compartilhamento de informação para gerir os elos da cadeia.

De acordo com as informações citadas a respeito desse processo logístico, observa-se uma maior dimensão da logística na empresa, que conforme entendemos, ela abrange as áreas que lidam do fluxo da matéria-prima até os produtos acabados, atuando tanto no aspecto interno quanto externo da organização, que se dá também pelos fornecedores até o consumo pelo cliente.

1.1– Serviços Logísticos

Há uma grande deficiência ainda nos tempos atuais nas micro e pequenas empresas onde algumas ainda não aliaram a funcionalidade de um sistema mais enxuto visando um retorno mais preciso da questão logística, atrelados à ligação direta entre fornecedores e clientes.

Englobam nos serviços logísticos as atividades intangíveis de uma organização que não influenciam na questão da produção e serviços, uma vez que para os serviços não há estocagem.

Segundo Figueiredo et al (2013, p.37)

ao utilizar os serviços logísticos como uma ferramenta competitiva, as em­presas poderiam estar criando barreiras à entrada de novos competidores e/ou custos associados à mudança para seus atuais clientes. Oferecer serviços ampliados, como a parametrização e a definição de políticas para a organização do fluxo de produtos, poderia afastar a concorrência, ao aumentar a complexidade e os custos de entrada.

A busca pela excelência nos serviços se dá pela união da organização com o fluxo de produtos até os seus clientes, assegurando uma maior troca de informações entre eles é possível um maior desempenho entre as operações de produção e distribuição em questão.

Visando a redução de custos e um maior nível de produtividade nas empresas, aumenta cada vez mais a busca pelas mudanças em suas estruturas, visto que o mercado globalizado tem puxado e exigido tais mudanças para que as empresas se adequem ao que hoje os clientes esperam de um serviço logístico de qualidade, porém, no atual cenário o que ainda vimos é uma outra realidade, pois muitas empresas vêm encontrando dificuldades em relação às suas operações logísticas (FIGUEIREDO, 2013).

Os altos custos logísticos associados às mudanças, tem feito com que as empresas acabem contratando provedores de serviços especializados, afim de conseguir sanar seus déficits em relação às operações mais complexas para que seja feita uma maior integração entre o planejamento e a execução dos serviços logísticos (GONÇALVES, 2013)

De acordo com Cunha e Iañez (1996 apud Ballou,1998)

o projeto da rede logística, pode englobar, entre outras, o posicionamento estratégico e a gestão de estoques, o transporte, a armazenagem e o manuseio de materiais, o gerenciamento de informações logísticas, compras, suporte aos serviços de assistência técnica, a logística reversa, a reciclagem e a destruição de produtos.

Tal junção se faz importante no cenário logístico de uma empresa devido à velocidade com que novos produtos são inseridos no mercado e pela eficiência dos provedores de serviços, que fazem com que as cargas encontrem um meio mais eficaz de estarem no seu destino final devido ao fato das empresas não conseguirem fazer uma futura previsão de suas entregas, gerando assim atrasos e complicações com os clientes.

Segundo Lynch (2000, p.395),

devido à velocidade com que novos mercados e novos produtos são desenvolvidos fica difícil para as empresas preverem suas necessidades logísticas futuras. Já os provedores de serviços logísticos, por atuarem para diversos clientes, e por necessitarem atualizar continuamente sua infra-estrutura, suas tecnologias e seus recursos humanos, têm flexibilidade para oferecer e viabilizar soluções logísticas modernas e customizadas segundo as necessidades específicas de seus clientes, aproveitando a experiência acumulada na operação de um determinado cliente em outros com necessidades e características similares.

Desta forma, as autoras dessa pesquisa entendem a real necessidade de adequação das micro e pequenas empresas em relação às melhorias nos seus serviços logísticos, para que agreguem maior valor e satisfação aos seus clientes finais.

1.2– Sistemas de Informação na Logística

Entender sobre os sistemas de informação na logística é de suma importância porque eles passaram a exercer um grande papel na estrutura empresarial da micro e pequenas empresas no que diz respeito à cadeia de suprimentos, e o que são na verdade, é um conjunto de partes integradas e dependentes, que trabalham juntos com objetivos comuns utilizando-se de recursos computacionais.

Para Stair (1998, p.11), “é uma série de elementos ou componentes inter-relacionados que coletam (entrada), manipulam e armazenam (processo), disseminam (saída) os dados e informações e fornecem um mecanismo de feedback.”

É a partir dos sistemas de informação que se planeja com mais clareza e definição sobre o processo de distribuição em si, localização de produtos através de códigos de barras ou etiquetas eletrônicas, trocas de informações entre os envolvidos no processo e até mesmo uma maior agilidade no rastreio das cargas, ou seja, toda a movimentação nas empresas (GONÇALVES, 2013).

Com o uso da tecnologia de informação, faz-se uma grande movimentação nos negócios empresariais de acordo com as necessidades dos clientes via web, o que antes se fazia através de um processo mais retrógrado e demorado, baseados em contatos pessoais, altos investimentos em ativos, transações e restrito fluxo de informações.

Os sistemas de informações logísticos têm funcionalidades internas que utilizam hardware e software para o controle e gerenciamento das operações logísticas que funcionam como um elo que liga as atividades logísticas a um processo integrado.

Com o crescimento do cenário mercadológico, vem sendo cada vez mais importante a capacidade de agregar valor aos produtos e serviços, e com isso a necessidade de uma adequação para que o cliente tenha o produto certo, no lugar certo e na hora certa, e desta forma surgiu a necessidade da otimização dos processos logísticos visando a tomada de decisão das organizações diante destas estratégias logísticas.

Figura 1. Conjunto de variáveis de logística

Fonte: Grant (2012)

Segundo Ballou (2006), os sistemas de informação na logística se dividem em SGP (Sistema de Gerenciamento de Pedidos), que é o sistema que entra em contato com o cliente na procura de produtos e colocação de pedidos, buscando informações no SGA (Sistema de Gerenciamento de Armazéns) para que na cadeia de suprimentos tenham a localização do produto, quantidades disponíveis e até mesmo sobre o prazo de entrega.

O SGA, que é o sistema utilizado para o controle e gerenciamento de estoques, pessoas, equipamentos, otimiza a armazenagem, espaços, fluxo e distribuição de produtos e é capaz de aumentar a produtividade diminuindo custos. É controlado através de um banco de dados onde se faz o registro de todas as movimentações existentes nos armazéns. Para as empresas que oferecem aos clientes um entrega bem mais rápida, este sistema possibilita a concretização deste diferencial, pois traz precisão no gerenciamento e rastreio dos produtos em tempo real, até a entrega do produto ao cliente.

Já o SGT (Sistema de Gerenciamento de Transportes) tem como sua principal função cuidar do transporte da empresa e para a empresa, “dá assistência ao planejamento e controle da atividade de transportes da empresa: consolidação de fretes, roteirização e programação de embarques, processamento de reclamações, rastreamento dos embarques e faturamento e auditagem dos fretes.”

O WMS (Sistema de Gerenciamento de Armazéns) também é uma parte muito importante dentro da cadeia de suprimentos, pois é a responsável direta pela precisão e rotatividade dos estoques, pela produtividade do quadro de colaboradores e equipamentos se adequando às funcionalidades do armazém, fazendo a separação dos pedidos e o controle do carregamento dos veículos, bem como as suas devidas rotas. Desta forma, dentre suas principais vantagens estão a programação e entrada de pedidos; a gestão da mão-de-obra; o controle da movimentação de materiais; a disponibilização de informações em tempo real; os inventários, controles de qualidade e redução de erros nas operações com foco no aumento da produtividade.

Para Brandalise (2017),

é importante que os sistemas WMS sejam integrados aos sistemas ERP da empresa com interface com o cadastro de materiais, carteira de pedidos de clientes e de fornecedores, níveis de estoque, planejamento de compras e de produção, sistemas de transporte e sistema de atendimento ao consumidor (SAC).

É muito importante que, dentro da empresa, todos os sistemas de informação, independente dos aspectos, devam se comunicar de uma forma integrada para que haja uma interação e concretização das atividades logísticas, caso contrário, pode haver uma ineficiência do sistema, vindo a prejudicar todo o processo envolvido.

1.3 – Custos Logísticos

Sabe-se que os custos logísticos estão entre um dos principais desafios que a logística empresarial enfrenta no seu dia-a-dia, e gerenciá-los adequadamente em relação a custos e níveis de serviço é algo que se torna primordial e de grande fator competitivo no atual cenário mercadológico.

A gestão dos custos logísticos tem como função solucionar os problemas que existem entre os níveis de serviço e custos que se consolidam na falta de um sistema adequado para tal gestão. Estes custos fazem parte de todas as empresas, independentemente de sua área de atuação, e subdividem-se em custos, que são referentes aos gastos com materiais e insumos (produção do bem na indústria), a aquisição do produto no caso do comércio ou na realização do serviço, despesas variáveis, que são as que variam proporcionalmente ao volume produzido ou vendido, ou seja, só haverá despesa se houver venda ou unidades produzidas, e as despesas fixas onde o total não varia proporcionalmente ao volume produzido, pois existem despesas a serem pagas independentemente da quantidade produzida ou valor de vendas, se fazendo necessários para uma correta apuração da lucratividade e um bom e mais eficiente gerenciamento financeiro.

Já os custos de transportes dos materiais tendem a ter a seguinte composição: o custo do produto vendido, como se fosse o custo do material, os custos de transportes de distribuição, normalmente, aparecem como despesas de vendas e, os outros custos como despesas administrativas. E a gestão dos custos logísticos deve ultrapassar todos os limites da empresa, de modo que a sua análise integre o custo total logístico utilizando-se o conceito de valor agregado.

De acordo com Pozo et al (2015, p. 180)

Afirma que o custo total logístico é a soma dos custos de transporte, estoque e processamento de pedido e pleno atendimento do cliente. Sob a perspectiva da Cadeia de Suprimentos, com as decisões tomadas com base no conceito de custo total logístico não se consegue ver e analisar os custos existentes externamente à empresa e que compõem o custo total logístico. É sabido que muitas empresas utilizam o conceito de Valor Agregado na avaliação de seu desempenho. Por isso, a gestão de custos com eficácia nos conduz a uma abordagem mais ampla, que visualize, também, as atividades externas ao ambiente.

Quando pensamos sobre o assunto e como desenvolver os custos da cadeia logística, a visão fracionada deste processo logístico se torna ainda mais difícil, e quanto mais detalhados o padrão no que diz respeito a cada elemento que faz parte do custo, melhores são os resultados. E para um melhor entendimento, apresenta-se a seguir os conceitos relevantes para o cálculo dos custos (POZO, 2015).

•custo:gastos relativos a um bem ou serviço utilizados na produção de outros bens ou serviços;

•gastos:sacrifício financeiro que a entidade arca para a obtenção de um produto ou serviço qualquer, sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro);

•investimento:gasto ativado em função de vida útil ou benefícios atribuídos a futuro(s) período(s);

•despesa:bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para a obtenção de receita;

•custo direto:é aquele facilmente identificado no produto. Não precisa de critérios de rateio;

•custo indireto:é aquele não identificado no produto. Necessita de critérios de rateios para locação. Exs.: depreciação, mão de obra indireta, seguros etc.;

•custo variável:depende da quantidade produzida. Exs.: combustível, matéria-prima, mão de obra direta etc.;

•custo fixo:independe da quantidade produzida. Exs.: aluguel, depreciação etc.;

•custo semivariável ou semifixo:varia com o nível da atividade, porém não direta e proporcionalmente;

•custo de transformação:é a soma de todos os custos de produção, exceto a matéria-prima e outros elementos adquiridos, ou seja, é o custo do esforço realizado pelas empresas. (POZO, 2015, p. 181)

Figura 2. Gráfico dos componentes do custo total

Fonte: Pozo (2015)

E como a finalidade do Custo Padrão é dar um suporte e ser aplicado ao controle de custos da empresa, consolidam-se os padrões de custos e ao final de cada período, faz-se a comparação com os custos que foram realmente sucedidos.

De acordo com POZO (2015, p. 182) “Os custos logísticos têm um valor e a adoção de uma abordagem integrada para o gerenciamento de informações dos custos, da operação até a distribuição, proporciona mudanças nos sistemas convencionais da contabilidade de custos, deixando para trás sua metodologia tradicional.”

Portanto, Ballou (1995) afirma que o Custo Total Logístico é a soma dos custos de transporte, estoque e o planejamento e processamento dos pedidos.

1.4 - A realidade das micro e pequenas empresas no Brasil

As micro e pequenas empresas surgem de algum ponto ou idéia inicial. O ato de empreender em si ocorre a partir da disposição de uma ou mais pessoas a concretizar uma idéia que surge da criatividade e da possibilidade de desenvolver algo útil e rentável. Enfim, gera-se uma oportunidade de negócio a ser desenvolvida, e para que essa idéia tenha sucesso, as estratégias vão sendo desenvolvidas e já começam a aparecer dentro de pequenos negócios antes mesmo da empresa existir formalmente.

Para esses empreendedores, sua sobrevivência depende e significa cada vez mais aprender, seja ela através de atividades capacitativas ou até mesmo de atividades de grandes assimilações para o seu desenvolvimento e aprendizado sempre de formas permanentes, pois apesar da micro e pequena empresa ser mais frágil no cenário empresarial, ela conta com a sua capacidade de reação e reinvenção mais rápida em casos de mudanças repentinas no mercado.

Elas representam no Brasil cerca de 8,9 milhões de empresas constituídas; 52% da oferta total de empregos formais; 40% dos salários pagos; 27% de participação no PIB e 98% do número de estabelecimentos existentes, se tornando cada vez mais importantes e essenciais nas cadeias produtivas buscando a competitividade e desenvolvimento empresarial no país. (Sebrae, 2014)

De acordo com o SEBRAE (2014), as micro e pequenas empresas são as principais geradoras da riqueza no comércio do Brasil, representando 53,4% do PIB neste setor, enquanto no PIB da indústria elas representam 22,5%, já o setor de serviços é o que tem a maior representatividade com 36,3%, o que significa mais de um terço da produção nacional, tendo sua origem nos pequenos negócios.

A competitividade é o maior desafio das micro e pequenas empresas, elas são marcantes em diferentes cadeias produtivas, são capazes de desenvolver produtos e serviços de forma ágil e flexível com qualidade aos clientes e consumidores, além de atuar como fornecedores terceirizados de pequenos lotes em diferentes nichos de mercados ou até mesmo em mercados especializados.

De acordo com Peter Drucker (1994), sete são as fontes básicas de oportunidades e desafios que devem ser constantemente acompanhadas pela empresa:

  • As necessidades de mercado não atendidas;

  • As necessidades dos processos desenvolvidos;

  • As mudanças na estrutura do setor produtivo e/ou do mercado;

  • As mudanças demográficas;

  • As mudanças em percepção, disposição e significado por parte da clientela;

  • Os conhecimentos inovadores;

  • O inesperado.

As micro e pequenas empresas desempenham um papel importante e fundamental na economia brasileira e estão entre as maiores geradoras de renda e empregos diretos e indiretos no país, porém possuem ainda um acesso bastante deficiente no que diz respeito às tecnologias e muitas das vezes se baseiam em conhecimentos empíricos nas tomadas de decisões.

Após o surgimento da logística na década de 70 com o intuito de abastecer os mercados emergentes, os processos passaram a se fundir mais, dando uma alavancada nas organizações melhorando o desempenho e fazendo com que se tivesse uma visão mais integrada dos processos, afim de que se reduzissem os custos e tivessem melhorias nos resultados, o que antes acontecia de forma bem independente para o alcance das metas e existindo até mesmo a concorrência interna.

Conforme Martins (2001, p. 252) a logística “é responsável pelo planejamento, operação e controle de todo o fluxo de mercadorias e informações, desde a fonte fornecedora até o consumidor”, diante da visão de todo esse processo logístico, o objetivo das empresas é eliminar desperdícios melhorando o resultado final, visto que o gasto logístico representa cerca de 10 a 30% dos gastos operacionais totais.

Figura 3. Sistema Integrado de Logística

Fonte: Adaptado Martins (2001)

A logística para micro e pequenas empresas sofre vários tipos de desafios com o transporte, o armazenamento e a distribuição, que são processos com altos custos operacionais. A ineficiência do transporte devido à precariedade das estradas faz com que o processo logístico se torne um alto custo no Brasil, e para que se possa resolver esse problema, o ideal seria manter os centros de distribuição visando uma diminuição dos custos com o transporte ou terceirizar o serviço afim de que os empresários possam se dedicar mais às suas atividades fim.

Outro grande problema se dá em relação aos fornecedores que são encontrados em bases menores, o que dificulta em caso de algum imprevisto ter que encontrar um plano alternativo. E nesta escala de desafios que as micro e pequenas empresas enfrentam, tem a burocracia de não terem um suporte jurídico e a regulamentação da atividade com muitas leis e decretos publicados; investimento em tecnologias visando resultados melhores na gestão da cadeia e também da segurança; o estoque quando representa altos custos e deve ser controlado de maneira eficiente trabalhando o equilíbrio entre a demanda de clientes e as mercadorias sem giro; a falta de qualificação da mão-de-obra dos colaboradores que impacta na sobrecarga de um profissional que exerça várias funções ao mesmo tempo, e por fim o planejamento que precisa ser feito abrangendo diversos elementos, incluindo o financeiro para que a empresa não sofra reveses (HOINASKI, 2017).

Portanto, é possível que os desafios das micro e pequenas empresas possam ser superados sabendo da importância e execução de um eficiente planejamento logístico para que se facilite a gestão do processo.

2. METODOLOGIA

Para a realização desta pesquisa adotou-se a metodologia de pesquisa qualitativa.

A pesquisa qualitativa está em um ascendente crescimento no mercado englobando diversas áreas, em especial na parte logística, onde podemos aprofundar sobre os motivos mais relevantes a serem considerados e modificados nas micro e pequenas empresas, visando proporcionar melhorias mais objetivas no sistema utilizado pelas empresas, com a obtenção de dados mais concretos sobre todo o processo envolvido, pessoas, etc.

Segundo Godoy e Bryman (1995), a pesquisa qualitativa em administração pode envolver várias situações de pesquisa, tais como a pesquisa documental, o estudo de caso e a etnografia (Godoy,1995).

Na mesma perspectiva, Bryman (1995) classifica a prática da pesquisa qualitativa segundo quatro níveis de participação do investigador: tipo 1, em que é totalmente participante, geralmente em uma ou duas organizações, com ênfase na técnica de observação participante( combinada com algumas entrevistas e análise de documentos); semiparticipante, em que o pesquisador é um observador, geralmente em uma ou duas organizações, mas com um papel indireto (incluindo também algumas entrevistas e análise de documentos); baseada em entrevistas , geralmente envolvendo o estudo de 1 a 5 organizações ( havendo análises de documentos ) e observações eventuais); multiorganizacional, com ênfase em entrevistas a indivíduos em 6 ou mais organizações, freqüentemente mais de 10 ( com uso de documentos e algumas observações ). Cabe fixar algumas características de base das pesquisas qualitativas.

Qualquer técnica de análise de dados, em última instância significa uma metodologia de interpretação. Como tal, possui procedimentos peculiares, envolvendo a preparação dos dados para a análise, visto que este processo “consiste em extrair sentido dos dados de texto e imagem” (CRESWELL, 2007. p.194)

Como os pesquisadores qualitativos não partem de hipóteses estabelecidas a priori, não se preocupam em buscar dados ou evidências que corroborem ou neguem tais suposições. Partem de questões ou focos de interesse amplos, que vão se tornando mais diretos e específicos no transcorrer da investigação. As abstrações são construídas a partir dos dados, num processo de baixo para cima. Quando um pesquisador de orientação qualitativa planeja desenvolver algum tipo de teoria sobre o que está estudando, constrói o quadro teórico aos poucos, à medida que coleta os dados e os examina. (GODOY, 1995)

Segundo José Filho (2006, p.64) “o ato de pesquisar traz em si a necessidade do diálogo com a realidade a qual se pretende investigar e com o diferente, um diálogo dotado de crítica, canalizador de momentos criativos”. A tentativa de conhecer qualquer fenômeno constituinte dessa realidade busca uma aproximação, visto sua complexidade e dinamicidade dialética. Porém, não existe pesquisa sem o apoio de técnicas e de instrumentos metodológicos adequados, que permitam a aproximação ao objeto de estudo.

Para alcançar os objetivos do artigo, a pesquisadora aplicou um questionário, que é um conjunto de perguntas que se faz com o objetivo de obter informações específicas a 10 empresários da região de São João Del Rei, fazendo a coleta e análise dos fatos abordados de acordo com a realidade das melhorias propostas ao setor de logística das micro e pequenas empresas da região.

3. ANÁLISES E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

A pesquisa em questão foi realizada com 10 empresários são-joanenses através da aplicação de um questionário com 15 questões objetivas a respeito do processo logístico das empresas.

Após a aplicação das questões foi possível identificar várias questões referentes ao processo logístico e informações sobre o perfil empresarial.

Dos entrevistados, 60% são homens, 50% com idade entre 18 a 29 anos, 25% entre 30 a 50 anos, 25% acima de 50 anos e todos eles possuem o curso superior em andamento. Já as mulheres representam 40% dos respondentes, 50% com idade entre 18 e 29 anos e 50% entre 30 e 50 anos. Das respondentes, 25% possuem apenas o nível médio de ensino e 75% com o curso superior em andamento.

Quando perguntados sobre o tipo de empresa em que trabalham, 50% se enquadram em pequenas empresas com até 99 funcionários e faturamento de R$ 360.000 a R$ 3.600.000, 40% em micro empresas com até 9 funcionários e faturamento de até R$ 360.000 e apenas 10% se enquadram como MEI, com o faturamento de até R$ 81.000 e apenas 1 funcionário.

Todas as empresas utilizam sistema de gestão em logística em desenvolvimento e essas, estão buscando acompanhar o crescimento do mercado e os gestores têm conhecimento sobre os sistemas de informação que auxiliam o processo logístico. Com esse resultado, é possível acreditar que, os gestores estejam seguindo pelo caminho correto para que se alcance cada vez mais uma logística de qualidade, algo que é sempre muito almejável pelas empresas.

Quando perguntados sobre o processo logístico que se dá desde a aquisição de produtos dos fornecedores, o armazenamento e até a entrega ao cliente final que é realizada pelas empresas, 20% responderam que é feita semanalmente, 40% que é feita mensalmente e 40% que é feita anualmente, o que nos indica um acompanhamento bastante satisfatório em relação a uma questão que se modifica constantemente, e ainda assim, que possuem sua gestão de estoques informatizada em 90% dos casos, o que possibilita ter um maior e mais amplo controle sobre todos os processos envolvidos, tão importantes quanto os 90% das empresas que possuem seus armazéns planejados, conforme as normas estabelecidas no que diz respeito ao layout, envolvendo prateleiras, equipamentos, distâncias, etc.

Ainda de acordo com os entrevistados, 95% das empresas não prestam serviços para outras empresas e possuem veículos próprios, o que segundo eles é uma economia bastante considerável em relação às despesas, no entanto, 5% prestam serviços para outras empresas e possuem veículos terceirizados.

Figura 4. Gráfico dos custos que tem maior impacto no preço dos produtos

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

De acordo com o gráfico, os entrevistados consideram que os custos que tem maior impacto sobre o preço dos produtos são 50% dos impostos, 40% do sistema de informação para controle de estoque e 10% do combustível, o que nos indica uma carga muito alta e que influenciam diretamente nos produtos comercializados.

As análises realizadas com os empresários de São João Del Rei apontam a forma com que os empresários são-joanenses enxergam o processo logístico de suas empresas e os fatores que impactam mais na execução do processo de acordo com as informações fornecidas.

De acordo com Pozo (2015, p. 180)

”[...] o custo total logístico é a soma dos custos de transporte, estoque e processamento de pedido e pleno atendimento do cliente. Sob a perspectiva da Cadeia de Suprimentos, com as decisões tomadas com base no conceito de custo total logístico não se consegue ver e analisar os custos existentes externamente à empresa e que compõem o custo total logístico.”

O impacto causado pelos altos custos dos combustíveis e dos impostos, deixa claro como o custo logístico pode representar uma grande parcela dos custos totais na fabricação ou comercialização de um produto. Além desses fatores; temos a falta de mão de obra qualificada para o transporte; a qualidade das estradas; a falta de investimento em outros modais de transporte que não seja apenas o rodoviário, como principais vilões do aumento dos custos na área de logística.

No interior, a realidade das empresas não difere dos grandes centros. Para se ter a margem de lucro é preciso gerenciar muito bem os custos e principalmente, os que estão relacionados às atividades logísticas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse momento, vale destacar que o objetivo geral desse estudo foi analisar a qualidade do serviço logístico prestado pelas pequenas empresas do município de São João Del Rei para que se pudesse identificar suas falhas e buscar melhorias para atender a crescente demanda da região.

Conforme pôde ser observado no referencial teórico e análise e discussões de resultados, o quão complexo pode ser o processo de gestão da área de logística, principalmente os fatores relacionados ao controle dos custos. O gestor deve procurar integrar os setores da empresa através do investimento em sistemas de informação que facilitam o acompanhamento das atividades e a tomada de decisão.

Conclui-se que o processo logístico sofre muito com os altos custos, inclusive o do transporte que é o que mais se destaca, dentre os impostos sobre os produtos e o combustível também com custos bem altos, porém, ao realizar esta pesquisa, pode-se observar que as micro e pequenas empresas do município de São João Del Rei estão cientes do crescimento do mercado e em quase a sua totalidade, utilizando os sistemas de informação que auxiliam no trâmite de um processo mais completo e ágil, fazendo com que este processo acompanhe a alta demanda em que se encontra a região.

REFERÊNCIAS

ALVIM, Paulo César Rezende de Carvalhohttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-19651998000100004&script=sci_arttext Acesso em 20/05/2018.

BALLOU, Ronald. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. Porto Alegre: Bookman, 2001.

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BRANDALISE, Loreni. Administração de Materiais e Logística. Porto Alegre: Simplíssimo, 2017.

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[1] Graduanda em Administração pelo centro Universitário Presidente Tancredo de Almeida Neves

[2] Professora Mestre em Administração

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